Lendo: Menina bonita do laço de fita

Por Cristina Marrero
Coluna Lendo

O livro Menina bonita do laço de fita foi inspirado na própria filha de Ana Maria Machado. A caçula, fruto do seu segundo casamento, nasceu com um tom de pele mais claro que o do seus irmãos mais velhos, pois o seu pai é descendente de italianos. A menina tinha como seu brinquedo favorito um coelho de pelúcia branco e Ana Maria gostava de enfeitar a cabeça da filha com um laço de fita. A família gostava de brincar procurando “explicações” para a cor branca da garota. E então… estava nascendo a história do livro!

A autora preferiu mudar um pouco, já que ela achava que havia muitos contos com meninas brancas. A personagem principal é uma linda menina negra que tem como vizinho um coelho que é apaixonado pela cor da menina e quer descobrir uma maneira para que, no dia que ele tiver uma filhinha, ela seja negra, da cor da menina do laço de fita.


Reinventando a brincadeira da família da autora, a personagem do livro cria muitas versões para a origem da sua cor: comeu muita jabuticaba, caiu numa lata de tinta, tomou muito café… E o coelho resolve testar todas as “receitas” para poder acertar o tom.

De uma maneira delicada e divertida o livro nos permite trabalhar com as questões étnicas, com as diferenças. Usando uma linguagem sutil, a autora aborda este tema de uma forma prazerosa.

O livro foi traduzido para vários idiomas e ganhou recomendações especiais e prêmios. Mas é claro que como qualquer texto que aborde um tema tão importante há várias leituras ideológicas.

“Na Dinamarca, uma funcionária do setor de bibliotecas condenou a obra porque porque o livro sugere que negros e brancos vivam em paz como bons vizinhos, sem que os negros lutem por seus direitos e façam valer suas reivindicações daquilo que a sociedade lhes nega. Para ela, o livro seria uma desmobilização da luta e uma incitação ao conformismo.1” Já em Belém, no Pará uma vendedora negra contou para a escritora que ela sabia que que a sua cor era linda e se encantou com a maneira como o livro mostrava isso.

Segundo as palavras da própria Ana Maria Machado, “um livro não é apenas aquilo que está escrito nele, mas também a leitura que o leitor faz desse texto. Os dois processos são ideológicos. Os dois pressupõem uma determinada visão do mundo. Para que esse livro possa manifestar seu potencial, torná-lo real, é indispensável que encontre um leitor generoso que possa fazê-lo dialogar com muitas outras obras, com visões do mundo enriquecidas pela pluralidade e pela aceitação democrática da diferença”2.

Eu lembro quando li essa história para as minhas filhas há alguns anos atrás, elas adoraram e comentavam que elas entendiam a vontade do coelho de ter a mesma cor de pele da menina já que elas também a achavam linda! Semana passada, a minha filha mais nova estava lendo a história para mim e, mesmo depois de tanto tempo, ainda nos deliciamos com o texto. Espero que vocês também gostem!

1, 2 – texto da escritora na seção Histórias meio ao contrário, no site site oficial de Ana Maria Machado

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10520087_10205119346253278_826309639437374543_nCristina ama literatura infantojuvenil e por isso, faz as aventuras, descobertas e fantasias chegarem até você através de dicas e reviews de livros. Cristina é diretora da Biblioteca Infanto-juvenil Patricia Almeida, um departamento da Brasil em Mente.

 

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